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Obstipação infantil

A obstipação infantil é um problema muito frequente em consulta de saúde infantil, podendo afetar até 30 % das crianças e representa cerca de 25 % das referenciações à consulta de gastroenterologia pediátrica. *

Dra Maria de Lurdes Torre, Pediatra.

Sabemos que o padrão intestinal varia ao longo da vida e existe uma grande variabilidade dentro do considerado normal, no entanto no recém-nascido de termo a primeira dejeção deve ocorrer nas primeiras 36 horas e esta em 90 % dos casos acontece nas primeiras 24 horas.

Nos primeiros 3 meses de vida os lactentes amamentados com leite materno têm em média 3 dejeções ao dia, mas alguns têm uma dejeção em cada mamada ou apenas de 4 em 4 dias sendo esta variabilidade normal desde que o lactente esteja confortável e não existam sinais de alarme.

Se estiverem a ser alimentados com fórmula infantil o padrão intestinal é, em média, 2 dejeções por dia existindo diversos tipos de fórmulas com características funcionais que estão associadas a dejeções mais frequentes e mais moles.

Aos dois anos a maioria das crianças têm menos de 2 dejeções por dia.

Obstipação vs disquinesia

Não devemos confundir obstipação com disquinesia infantil, uma situação muito frequente que resulta da imaturidade própria do lactente em que existe vontade de evacuar, mas incapacidade de relaxar, ou seja, abrir o esfíncter anal ao mesmo tempo. Esta situação inicia-se nos primeiros meses de vida e resolve-se espontaneamente após algumas semanas. Esta situação é também muitas vezes confundida com as cólicas do lactente, ou cólica infantil.
Na disquinesia infantil o bebé sente vontade de fazer cocó, faz muita força, fica vermelho, chora de forma intensa, geme e pode dobrar as pernas sobre o abdómen (barriga). Estes episódios têm duração superior a 10 minutos e existe alívio imediato (ao contrário do que acontece nas cólicas) após a eliminação de fezes que ocorre espontaneamente ou após estimulação, as fezes são moldadas ou líquidas (não duras) e geralmente evacuam diariamente. Acontece com bebés alimentados exclusivamente com leite materno ou com fórmulas infantis.

Na obstipação as crianças e lactentes têm menos de duas dejeções por semana, as fezes são duras e de grande volume e são dolorosas. A irritabilidade, diminuição de apetite e/ou ansiedade podem coexistir e desaparecer imediatamente após a emissão de fezes.

Grande parte das obstipações (95%) são funcionais, ou seja, sem doença orgânica associada não necessitando de exames para esclarecer a causa, mas existem sinais de alarme (tais como sangue nas fezes, não aumentarem de peso, apresentarem fezes finas, entre outros) que os profissionais de saúde sabem identificar e consequentemente orientar e investigar de forma adequada, o que reforça a importância do seguimento médico regular.

Como é que o pediatra pode ajudar?

O caminho passa por esclarecer, acalmar e desculpabilizar os pais (sabemos que muitas mães se sentem culpadas por pensar que estão a comer ou a dar de comer coisas erradas), e solucionar esta questão.
Nas crianças mais velhas existem medidas comportamentais e alimentares a utilizar.
No lactente, que por algum motivo não pode ser amamentado com leite materno, existem no mercado géneros alimentícios destinados a uma alimentação especial – alimentos para fins medicinais específicos com características funcionais ou seja, que podem aliviar a obstipação não orgânica que, por indicação de profissional de saúde, podem ser utilizadas e ajudar nesta situação tão aflitiva para o bebé e pais.

As características funcionais das fórmulas resultam da modificação das proporções de alguns nutrientes e bem como da adição de substâncias permitidas para este tipo de alimentos para fins medicinais específicos.

O aleitamento materno é o melhor para o seu bebé fornecendo-lhe todos os nutrientes suficientes para um desenvolvimento adequado até aos 6 meses, mas na impossibilidade de o fazer ou o seu leite materno ser insuficiente podemos usar fórmulas infantis cuja composição se encontra regulamentada por entidades internacionais e nacionais que nos dá a total segurança na sua utilização.

Nas fórmulas em que a lactose é o único hidrato de carbono (tal como no leite materno) como esta não é completamente absorvida no intestino delgado pela imaturidade intestinal do lactente, quando chega ao cólon tem um efeito prébiotico, ou seja, vai estimular o crescimento de Bifidobactérias que tornam as fezes com características muito semelhantes às fezes do bebé amamentado com leite materno.

Existem trabalhos comparativos da eficácia da resposta à obstipação entre fórmula com 100% de lactose e rica em magnésio e outras formulas conforto em que o efeito da primeira fórmula foi significativamente mais eficaz.

*D Infante Pina, X Badia llach, B Arino.Armengol, V Vilegas Iglesias. “prevalence and dietetic management of mild gastrointestinal disorders in milk-fed infants”, WJG, 2008

Código da peça:
Outras referências bibliográficas:
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wjg@wjgnet.com © 2008 WJG. All rights reserved.ina DI et al
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