Dr.ª Maria de Lurdes Torre, Pediatra
Na verdade, o choro pode ser manifestação de muitas situações entre as quais doenças orgânicas, mas hoje vamos falar sobre distúrbios funcionais gastrointestinais (que são situações em que não é encontrada nenhuma anormalidade) muito frequentes, nomeadamente as cólicas infantis.
O que são as cólicas?
As cólicas podem-se definir pela regra dos 3: começam nas 3 primeiras semanas de vida, duram mais de 3 hora por dia, ocorrem mais de 3 dias na semana, duram mais de 3 semanas e raramente duram mais de 3 meses.
Existem critérios clínicos para a definição da cólica do bebé. Os bebés ficam bem no intervalo do choro, têm uma boa evolução de peso (ao contrário se fosse por fome), não se encontra causa para o choro e na observação clínica estão clinicamente bem.
Manifestam-se por um choro agudo e persistente, muitas vezes dobram as pernas sobre a barriga, podem emitir gases simultaneamente e são mais frequentes ao final do dia.
E porque têm cólicas?
Não há uma causa propriamente dita, mas fatores como a deglutição (engolir) excessiva de ar (por má pega) ou por uma tetina desadequada imaturidade gastrointestinal e tensão emocional são certamente situações que contribuem para choro do bebé.
Como o pediatra pode ajudar?
Nenhum tratamento é 100 % eficaz. O principal é o tempo.
O aleitamento materno ou na sua impossibilidade as fórmulas infantis com características especiais, o contacto físico nomeadamente pelas massagens abdominais, e a audição de sons com determinadas frequências, como o white noise, podem contribuir para algum alívio.
O aleitamento materno é o melhor alimento para o bebé fornecendo todos os nutrientes necessários durante os primeiros 6 meses de vida, mas na impossibilidade de o fazer ou deste ser insuficiente, existe a necessidade de utilizar fórmulas infantis destinadas a uma alimentação especial, com enquadramento legal nos termos previstos dos Regulamentos Europeus e, portanto, passíveis de serem usadas com toda a segurança.
A lactose é o principal hidrato de carbono do leite materno, mas nas primeiras semanas de vida existe uma imaturidade intestinal com insuficiência de lactase (enzima que hidrolisa a lactose ) o que leva a que a lactose possa chegar íntegra ao cólon (parte terminal do intestino) e que seja fermentada originando excesso de gás que contribui para as cólicas. Percebe -se que a redução parcial deste hidrato de carbono e a sua substituição por um não fermentável pode ser um aliado muito importante para a redução da cólica e consequentemente maior conforto do seu bebé.
Existem publicações científicas* que revelam 87 % da redução do tempo de choro, e redução da quantidade de gás produzido ao final de uma semana de utilização de fórmulas com estas características.
Peça, ao médico que acompanha o seu bebé, ajuda diferenciada para que juntos possam ficar mais esclarecidos e dar tranquilidade ao vosso bebé nesta fase inicial da sua vida.
*D Infante Pina, X Badia llach, B Arino.Armengol, V Vilegas Iglesias. “Prevalence and dietetic management of mild gastrointestinal disorders in milk-fed infants ”, WJG, 2008